
Governo Federal quer terminal dez vezes mais perigoso que Beirute
Depois das imagens da explosão de três mil toneladas de Nitrato de Amônio no porto de Beirute, exatamente há um ano, agora a capital do Líbano serviu como palco de confronto entre manifestantes e trabalhadores portuários com as forças de segurança. A população ainda está inconformada com o fato de que até agora, ninguém foi punido, nenhuma responsabilidade foi apurada.
Se, praticamente em todo o mundo, as autoridades portuárias restringiram a manipulação de cargas perigosas e instáveis como o Nitrato de Amônio a áreas mais isoladas dos diversos estuários marítimos, no Brasil o Governo Federal pretende a instalação de um terminal de fertilizantes, e consequentemente de manipulação de substâncias instáveis, na região de Outeirinhos, área histórica do porto de Santos totalmente ocupada por moradias, instalações comerciais e até um campus da Universidade Federal de São Paulo.
A denúncia é do vereador Francisco Nogueira, também presidente do Settaport (Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes Aquaviários e Operadores Portuários do Estado de São Paulo). Para ele, trata-se de uma ação autoritária que afronta a legislação, não promove nenhuma consulta formal aos municípios envolvidos e só serve para atender aos interesses de empresários ávidos por multiplicar seus rendimentos. “Falam na criação de empregos, mas não explicam como isso se dará. É apenas um chute. Falam ainda em compensação ambiental e eu pergunto: que tipo de compensação pode ser suficiente para repor a perda de um filho ou filha, de um pai ou de uma mãe?”
Nogueira lembra que o Tribunal de Contas da União, através do voto do conselheiro Vital do Rego, alertou o Ministério da Infra-Estrutura, a Secretaria Nacional de Portos e a Autoridade Portuária de Santos que apenas “intenções” não bastam para justificar transformações no porto, que, por enquanto, servem apenas ao interesse de empresas ferroviárias.
“Ninguém é contra a modernização do porto. Mas, não desse jeito truculento, sem que sejam apresentados estudos de impacto econômico ou ambiental, sem um planejamento efetivo. O voluntarismo da autoridade portuária já transformou a antiga área da Libra, na Ponta da Praia, num criadouro de roedores com todos os equipamentos transformados em pura sucata”.
Francisco Nogueira ocupou a tribuna da Câmara Municipal de Santos no final da sessão de terça, dia 3, para registrar a efeméride de um ano do desastre de Beirute, quando três mil toneladas de Nitrato de Amônio explodiram, provocaram a morte de 214 pessoas, mais de 6.500 feridos e a destruição de um bairro histórico da cidade. “O que pode acontecer quando a autoridade portuária de Santos imagina manipular nada menos do que 30 mil toneladas, dez vezes mais da mesma substância?”
Nogueira apelou ao prefeito de Santos, Rogério Santos, e ao governador João Doria, no sentido de que impeçam o descalabro pretendido pelo Governo Federal.